Nordeste reduz desertos de notícias, mas ainda enfrenta desafios
As rádios e as iniciativas digitais são as principais responsáveis pela redução dos desertos de notícias no Nordeste. A força desses segmentos, já observada em mapeamentos anteriores do Atlas da Notícia, se confirma nesta nova edição do censo. Mais de 85% das 3.011 iniciativas jornalísticas mapeadas na região são rádios ou veículos nativos digitais.
Ao todo, 283 novos veículos foram adicionados à base, um crescimento de mais de 10%, na comparação com o mapeamento anterior (2023). Com isso, 143 municípios nordestinos deixaram de ser classificados como desertos de notícias.
Pernambuco (30), Rio Grande do Norte (23) e Bahia (22) foram os estados com maior redução de desertos. Angicos, por exemplo, na região central do Rio Grande do Norte, onde vivem aproximadamente 12 mil pessoas (Censo 2022), deixou de ser classificada como vazio noticioso a partir do mapeamento do portal Angicos Notícias, que cobre a cidade com uma equipe de oito pessoas, incluindo colunistas.
Mesmo assim, o Nordeste ainda tem a maior quantidade de desertos de notícias do país: 890 municípios. Em termos proporcionais, é a segunda região com maior concentração de vazios noticiosos, logo atrás do Sudeste. Em 49,61% dos municípios nordestinos, as populações não têm acesso à informação sobre sua comunidade produzida e checada pelo jornalismo local.
A região ainda têm 488 municípios quase-desertos. Esses são lugares onde foram mapeados apenas um ou dois veículos jornalísticos. Ou seja, são territórios que correm grande risco de se tornarem desertos de notícias. Se somarmos os desertos com os quase-desertos, podemos afirmar que mais de 76% dos municípios nordestinos apresentam um ambiente de notícias frágil. Entre outras questões, isso representa um grande desafio para o combate à desinformação na região.
Rádios | Online | Televisão | Impresso |
---|---|---|---|
1.064 | 1.532 | 206 | 209 |
Concentração de veículos por segmento
O estado do Piauí reúne maior quantidade de desertos de notícias (163) e a maior proporção de vazios noticiosos ( 72,77% dos municípios). Em números absolutos, o segundo lugar fica com a Bahia (153), mas se considerarmos a proporção, o Rio Grande do Norte assume a vice-liderança, com 65,87% dos municípios sem iniciativas de jornalismo local mapeadas.
Quantidade de desertos de notícia no NE
Estado | Desertos | Proporção desertos/municípios | Variação vs 2023 |
---|---|---|---|
CE | 76 | 41,30% | -8 |
PB | 125 | 56,05% | -13 |
PE | 62 | 33,51% | -31 |
BA | 153 | 36,69% | -22 |
PI | 163 | 72,77% | -8 |
RN | 110 | 65,87% | -18 |
SE | 37 | 49,33% | -5 |
MA | 115 | 53,00% | -10 |
AL | 49 | 48,04% | -13 |
Como já observado em outras edições do Atlas da Notícia, os estados nordestinos com maior concentração de veículos jornalísticos são Bahia (861), Maranhão (392), Pernambuco (378) e Ceará (316). Apenas na Bahia, a pesquisa encontrou 73 impressos, 482 online, 275 rádios e 31 TVs.
As capitais seguem concentrando as iniciativas. São Luís, no Maranhão, que já havia se destacado em mapeamentos anteriores, é a capital nordestina com maior quantidade de veículos jornalísticos mapeados, 127 iniciativas.
Redução dos desertos
A redução dos desertos de notícias observada nesta edição está relacionada ao surgimento de novas iniciativas, que passaram a integrar a base da pesquisa. Entre elas, as rádios comunitárias com produção noticiosa, que desde 2022 são contabilizadas como veículos jornalísticos pelo Atlas. Também pela presença massiva de iniciativas online, muitas delas presentes apenas nas redes sociais, sem um site âncora.
Os resultados também podem ser explicados pela maior capilaridade do censo. Esta edição do Atlas da Notícia contou com a participação de equipes em universidades públicas dos nove estados do Nordeste, que trabalharam juntas em um grande esforço para a checagem dos desertos de notícias, envolvendo dezenas de estudantes de jornalismo e professores voluntários.
Ainda é pertinente explicar que a metodologia do Atlas da Notícia considera a produção de conteúdo original noticioso e a periodicidade como critérios para a classificação das iniciativas jornalísticas. Isso exclui, por exemplo, páginas de humor que podem ter um verniz noticioso, mas que não produzem conteúdo jornalístico original. Também portais agregadores de notícias, que não fazem apurações próprias. Desse modo, os veículos não-jornalísticos não têm influência neste resultado.
Nativos digitais
As iniciativas jornalísticas que existem apenas nas redes sociais são uma tendência consolidada na pesquisa. Essas páginas geralmente produzem conteúdos mais curtos, com notícias sobre trânsito, violência, política e o calendário de eventos das cidades. Elas podem ser administradas por uma única pessoa e exibem recorrentemente anúncios pagos por prefeituras e pelo comércio local.
Por outro lado, o censo vem registrando a expansão do jornalismo independente no Nordeste. Novos veículos como o Redes do Beberibe, que tem foco no bairro periférico de Beberibe, no Recife (PE), onde vivem 500 mil pessoas, foram agregados à base do censo. A iniciativa distribui conteúdo jornalístico a partir de uma página no Instagram.
Na seara dos independentes, ainda vale destacar iniciativas como o portal Periféricos, que propõe narrativas da periferia a partir de Sergipe e a Coar Notícias, iniciativa piauiense de checagem de fatos, que trabalha com foco nos desertos de notícias nordestinos. Ambas passaram a fazer parte da base do Atlas nesta edição.
Fechamento de veículos
Nesta edição, registramos o fechamento de 82 veículos jornalísticos no Nordeste, muitos deles nativos digitais. A maior parte dos fechamentos aconteceu em Pernambuco (35), onde iniciativas como o portal OP-9 foram encerradas. O veículo, que pertencia ao Grupo Opinião do Rio Grande do Norte, dos mesmos donos do Sistema Hapvida de planos de saúde, mantinha equipes em vários estados nordestinos.