O jornalismo da Região Norte segue em expansão, aponta Atlas da Notícia 2025

Com os 158 novos veículos adicionados à plataforma, a Região Norte chega à sétima edição do Atlas da Notícia com um total de 1.264 veículos jornalísticos. Esse aumento de 14% no total de registros é puxado, principalmente, pelos segmentos de rádio e online, que cresceram 24,6% e 19,1%, respectivamente. O jornalismo digital, em especial, vem ganhando força na região: 45,8% dos novos veículos identificados desde a última edição operam exclusivamente em plataformas online, refletindo a expansão de iniciativas locais, independentes e conectadas às redes sociais. Esses dados apontam para movimentações no ecossistema midiático amazônico e revelam caminhos possíveis para ampliar o direito à comunicação em contextos historicamente marcados pela desigualdade no acesso à informação.
Os veículos jornalísticos da Região Norte estão distribuídos entre online, rádio, televisão e impresso. O segmento online segue em expansão, com 579 veículos registrados em 2025, impulsionado por iniciativas locais, independentes e digitais. A rádio também cresce de forma estável, mantendo 370 emissoras ativas, fundamentais em áreas com acesso limitado à internet. Em contrapartida, o jornalismo impresso segue em queda: de 116 veículos em 2021, passou para 111 em 2025, refletindo a retração nacional do formato. Já a televisão apresenta estabilidade, com 204 canais em 2025, número próximo das edições anteriores, o que aponta para um mercado consolidado, com pouca renovação de concessões.
Apesar do crescimento registrado nesta edição, a Região Norte segue com a menor presença absoluta entre todas as regiões brasileiras, abrigando apenas 9,2% do total nacional — mesmo sendo a maior em extensão territorial e detentora de uma enorme diversidade étnico-cultural e ambiental. Esse cenário reflete assimetrias estruturais persistentes, ligadas à baixa conectividade, fragilidades de infraestrutura e escassez de financiamento para o jornalismo local.
Além disso, 193 dos 450 municípios nortistas estão classificados como desertos de notícias (não têm nenhum veículo jornalístico), o que evidencia a urgência de políticas públicas e incentivos à criação, manutenção e sustentabilidade de mídias locais. Enquanto 144 são quase-desertos (contam com 1 ou 2 veículos) e 113 são não-desertos, ou seja, têm mais de 3 veículos.
A distribuição desigual dos veículos também expressa a concentração econômica e informacional nos grandes centros urbanos, em contraste com a invisibilidade comunicacional de diferentes territórios da Amazônia. De acordo com os dados, as cidades de Manaus (AM), com 156 veículos; Porto Velho (RO), com 94; e Belém (PA), com 86, lideram amplamente o ranking regional, evidenciando a centralização da produção e circulação de informação nas capitais estaduais. Além dessas, destacam-se também cidades de médio porte com presença significativa de veículos, como Macapá (AP), Boa Vista (RR), Ji-Paraná (RO), Araguaína (TO), Gurupi (TO), Cruzeiro do Sul (AC) e Jaru (RO).
As mudanças no ecossistema jornalístico de cada estado e município são esperadas a cada nova edição do Atlas da Notícia. As classificações em "desertos", "quase-desertos" e "não-desertos" de notícias refletem dinâmicas locais que variam com o tempo e estão diretamente relacionadas a fatores como a criação, desativação ou reestruturação de veículos de comunicação, mudanças na atuação de mídias comunitárias, surgimento de projetos digitais e transformações no acesso à internet e nas políticas públicas de comunicação.
Nesta edição, por exemplo, sete municípios nortistas deixaram a condição de deserto de notícias, entre eles Assis Brasil (AC), Amajari (RR) e Pacajá (PA), indicando avanços importantes na presença de meios informativos locais. Por outro lado, dez municípios da região passaram a ser classificados como desertos, como Novo Aripuanã (AM), Limoeiro do Ajuru (PA) e Formoso do Araguaia (TO), evidenciando a instabilidade e fragilidade das iniciativas jornalísticas em determinados territórios.
Fechamentos de veículos online
Essas mudanças também refletem um esforço específico empreendido pela equipe de pesquisa do Atlas da Notícia nesta edição, voltado à atualização e qualificação da base de dados, com atenção especial aos veículos online — cuja permanência no ar tende a ser mais instável e vulnerável. Como parte desse trabalho, foi realizada uma checagem ativa, que considerou tanto sites quanto perfis em redes sociais. O resultado apontou que 93 veículos anteriormente registrados na Região Norte já não estão mais em operação, evidenciando a fragilidade estrutural de grande parte das iniciativas jornalísticas na região. O estado do Amazonas lidera esse recuo, com 28 veículos inativos, seguido por Pará (18), Rondônia (16), Tocantins (12), Amapá (7), Acre (6) e Roraima (6).
As plataformas de redes sociais acabam se consolidando como uma alternativa viável de presença digital para muitas iniciativas de informação na Região Norte, especialmente diante da dificuldade de manutenção de sites e da baixa sustentabilidade financeira dos veículos jornalísticos locais. Embora muitos desses canais não sigam rigorosamente os critérios de produção jornalística (como apuração, periodicidade e compromisso editorial), exercem importante papel na circulação de conteúdos de interesse público.
É o caso do Canal 1 Limoeiro, de Limoeiro do Ajuru (PA), uma página com mais de 8 mil curtidas e 40 mil seguidores, que compartilha conteúdos sobre vivências culturais e cotidianas do território. Embora não utilize linguagem ou metodologia jornalística formal, a página atua como fonte de informação relevante para a população local, especialmente em um contexto de escassez de veículos profissionais e outras formas de vulnerabilidade informacional. Outro exemplo é a Revista Círios de Nazaré, que, apesar de não cobrir temas como política, economia ou saúde, é voltada à difusão de uma pauta central na vida social e simbólica de milhões de amazônidas: a festividade do Círio de Nazaré. Publicações desse tipo reforçam a importância de reconhecer formas diversas de comunicação que compõem o ecossistema informacional da Amazônia, mesmo que não se enquadrem nos moldes tradicionais de jornalismo.
Durante o processo de atualização da base, também foi possível confirmar a permanência de veículos históricos em operação, como o Jornal Pessoal, do jornalista Lúcio Flávio Pinto, que segue ativo em Belém (PA), mantendo sua tradição de jornalismo investigativo independente, mesmo tendo anunciado o encerramento de suas atividades com tiragem reduzida e circulação majoritariamente digital nos últimos anos.
Desde que iniciou o censo da imprensa brasileira, em 2017, o Atlas da Notícia tem se dedicado a construir redes de colaboração capazes de alcançar a diversidade dos territórios brasileiros por meio do jornalismo local. Na Região Norte, que reúne 450 municípios distribuídos entre sete estados, não foi diferente. Buscando reconhecer e mapear essas diferentes realidades, construímos ao longo dos anos retratos do ecossistema jornalístico local, respeitando as particularidades de cada chão deste país — um país feito por gente. Gente que faz cultura, política, história, jornalismo e que movimenta a vida. Assim, chegamos à sétima edição do Atlas da Notícia (2025) registrando 1.264 veículos jornalísticos em operação na Região Norte do Brasil. Por isso agradecemos a:
- UFT
- Unifesspa
- Ufra
- Unifap
- Unir
Jéssica Botelho é jornalista e pesquisadora amazônida com foco em monitoramento de dados, desinformação socioambiental e jornalismo local. É doutoranda em Comunicação e Cultura na UFRJ, coordena o Atlas da Notícia na região Norte e o Centro Popular de Comunicação e Audiovisual (CPA), além de ser consultora no projeto “Promovendo o Acesso à Informação, o Exercício dos Direitos, o Combate à Desinformação e a Defesa da Democracia” (Unesco e Secom PR).