Redução dos desertos de notícias no Brasil é impulsionada pelo crescimento do segmento online

Os dados coletados pelo Atlas da Notícia entre outubro de 2024 e junho de 2025 reforçam uma tendência já percebida em edições anteriores: redução dos desertos de notícias, municípios em que não há presença registrada de um veículo de comunicação local, impulsionada pelo crescimento do segmento online.
Nos últimos dois anos, o Atlas registrou uma redução de 7,7% no número de desertos de notícias no Brasil. Nesse período, 251 municípios deixaram de ser desertos de notícias, mas 43 ingressaram nessa condição. No final das contas, mais 208 municípios brasileiros passaram a contar com ao menos um veículo de comunicação local servindo a sua população.
O segmento digital é diretamente responsável por essa expansão. O número de iniciativas online operando no Brasil cresceu de 5.245 para 5.712, um aumento de 8,9% em relação ao último levantamento, divulgado há dois anos. Esse incremento de 467 veículos é quase três vezes o saldo somado de novas emissoras de rádio e TV registradas pelo censo deste ano.
A maior expansão se deu no Nordeste. A região incorporou 283 novas iniciativas à base de veículos do Atlas, um crescimento de 10,96% em relação ao último censo (2023), e 143 municípios nordestinos deixaram de ser considerados desertos de notícias.
O Nordeste ainda é, em números absolutos, a região com maior número de desertos, com 890 municípios sem registro de jornalismo local, o que equivale a 49,61% do número total de municípios. Proporcionalmente, no entanto, o Sudeste ocupa a última posição, com 830 municípios considerados desertos noticiosos, que equivalem a 49,76% do número total da região.
Entre os veículos online, 1.856 estão registrados na base do Atlas como sendo iniciativas individuais ou blogs. Esse número corresponde a um terço de todo o segmento. Uma tendência observada por esta edição do censo, sobretudo no Centro-Oeste, é um movimento de migração de sites de notícias para plataformas de redes sociais. No Norte, as plataformas sociais vêm se tornando também uma alternativa para muitas iniciativas e no Nordeste esta já é uma prática consolidada, usada sobretudo pelas iniciativas operadas por uma única pessoa.
Preocupações
É louvável a disposição do jornalismo de operar e sobreviver na medida do possível, de usar os meios e os recursos disponíveis para continuar relevante e prestar um serviço fundamental para a cidadania. Mas é aqui que devemos ter mais atenção.
Apesar do crescimento, o meio online não é imune à crise que afeta o jornalismo e a vulnerabilidade do segmento é preocupante. O Atlas já detectou o fechamento de 651 veículos que estavam registrados na base do segmento online - 334 desde o último censo, em 2023.
Pesquisas realizadas anteriormente pela equipe do Atlas mostram que iniciativas online carecem de estrutura comercial e de gestão, têm pouco conhecimento e capacidade para explorar novas fontes de financiamento, contam com redações muito enxutas e, muitas vezes, sofrem concorrência dos sites das prefeituras e de veículos criados para funcionar unicamente em períodos eleitorais.
A falta de políticas públicas para o segmento e os desafios para a sustentabilidade econômica que garanta a independência editorial são problemas conhecidos, mas há outros que deveriam estar na nossa pauta de preocupações. Se o jornalismo produz o rascunho da história, a manutenção dos acervos digitais dos veículos em operação e a recuperação daqueles que já fecharam deveria ser uma questão a ser seriamente considerada. Há em curso um apagamento da memória do cotidiano das nossas cidades, da nossa história recente registrada em arquivos digitais.
Presença do jornalismo local
Das 5.570 localidades mapeadas, em 2.504 os pesquisadores do Atlas não encontraram jornalismo local em atividade. Nesses municípios vivem aproximadamente 20,66 milhões de pessoas, o que equivale a 10,2% da população brasileira. Em cada 20 municípios brasileiros, nove são desertos de notícias.
O censo detectou também uma concentração de veículos nas grandes cidades e nas capitais. Entre as 25 cidades com mais veículos registrados somente uma, Campinas, não é uma capital. O Sudeste detém 31,8% do total de veículos jornalísticos do país, com São Paulo liderando nacionalmente com 2.521 veículos na base do Atlas. Entre as grandes cidades, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte estão entre as 20 com mais veículos ativos no país. No Norte, Manaus, Porto Velho e Belém lideram amplamente o ranking regional de veículos. No Nordeste, São Luís é a capital com maior quantidade de veículos mapeados.
A base do Atlas da Notícia conta com 14.809 veículos jornalísticos em atividade no Brasil. Além dos 5.712 veículos online, a base também registra 4.994 rádios, 2.852 meios impressos e 1.251 emissoras de televisão.
Projeto colaborativo
A coleta de dados da sétima edição do Atlas da Notícia foi realizada entre os meses de outubro de 2024 e junho de 2025. A pesquisa foi conduzida por cinco pesquisadores: Jéssica Botelho (Norte), Angela Werdemberg (Centro-oeste), Mariama Correia (Nordeste), Dubes Sônego (Sudeste) e Marcelo Crispim da Fontoura (Sul). O censo contou com a participação voluntária de 232 pessoas de 83 instituições parceiras.
A sétima edição do Atlas da Notícia foi realizada com financiamento do Google e contou com apoio institucional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), da Associação Brasileira de Ensino em Jornalismo (ABEJ) e da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor).