Desertos de notícia recuam na região Sul
- Queda no número de desertos de notícias no Sul foi de 8%
- Isso representa 44 municípios desérticos a menos do que no levantamento anterior
- Diminuição segue a tendência identificada em outras edições do Atlas, tanto pelo surgimento de novas iniciativas quanto pelo aprimoramento das metodologias de mapeamento.
O Atlas da Notícia identificou uma diminuição de 8%
na quantidade de desertos de notícia, aqueles municípios que não têm nenhum veículo jornalístico lá sediado, nos municípios da região Sul do Brasil. As cidades nesta categoria, conforme o levantamento mais recente, somam 504. São 44
municípios a menos do número encontrado na edição 5 do Atlas, publicada em 2022.
Estes municípios ainda representam 42%
das cidades do Sul, taxa similar à da região Norte. Entre os três estados, o Paraná lidera com maior proporção de desertos de notícia frente ao número total de municípios: 44%. Já Santa Catarina e Rio Grande do Sul registram 41% cada. Essa diminuição segue a tendência identificada em outras edições do Atlas, tanto pelo surgimento de novas iniciativas quanto pelo aprimoramento das metodologias de mapeamento.
A redução no número de desertos se deve principalmente a dois movimentos: a popularização de veículos digitais e a identificação de mais rádios. Com relação ao primeiro aspecto, é algo que já vem sendo observado em edições anteriores do Atlas. Conforme a publicação de veículos impressos se mostra cada vez mais proibitiva, e a organização de meios de radiodifusão demanda concessões, além de aparato técnico avançado, a migração para estruturas online se torna a saída mais natural, ainda mais conforme a presença massiva dos brasileiros em redes sociais.
Os veículos digitais da região Sul somam 1.293, ou 33%, exatamente um terço do total. É um salto de 270 veículos frente aos identificados no levantamento anterior. Este aumento foi identificado em todos os três estados.
Agora, os veículos online representam os mais frequentes da região, superando as 1.273 estações de rádio. Essas, por sua vez, também tiveram um aumento frente ao último levantamento: foram identificadas 131 estações de rádio adicionais, solidificando este meio como segundo mais presente na região. Dentro deste número, estão incluídas também rádios comunitárias.
Embora essas emissoras não tenham a exigência legal de programação jornalística original, como as rádios comerciais, elas têm relevância em comunidades no interior, sobretudo nos municípios menores e mais isolados. É comum que existam municípios cuja única fonte de informação local é uma rádio comunitária, que frequentemente publica conteúdo online, adicionalmente. Um exemplo disso pode ser visto na Rádio Vida Ciríaco, no Rio Grande do Sul. O site da emissora, ao contar sua história, demonstra a importância local da estrutura.
Houve um decréscimo de 54 veículos impressos nos três estados, para 1.066, refletindo a trajetória global do meio. O número de emissoras de televisão permaneceu estável.
Diversificação de estratégias
Embora ainda sejam movimentos localizados, nota-se que há por parte dos veículos digitais um início de diversificação de estratégias online. Isso é necessário tanto para se diferenciar de concorrentes em cidades vizinhas quanto para atrair a atenção do público, uma vez que a simples presença online não é garantia de audiência.
Um exemplo que demonstra este comportamento é a Rede Web TV de Taió, Santa Catarina, uma webtv que iniciou suas operações em plena pandemia e produz conteúdo local; ou a rádio Studio FM, de Veranópolis, RS, que conta, entre seus diversos perfis em redes sociais, com presença no TikTok e no Telegram.
Já o Portal49, de Seara, em Santa Catarina, faz transmissões ao vivo da câmara de vereadores. Finalmente, em termos de monetização, o H2Foz, de Foz do Iguaçu, implementou um clube de vantagens, que se estabelece como um benefício adicional para os assinantes do site. Conforme se impõem as necessidades de digitalização e diferenciação, veículos digitais do interior seguem uma trajetória de profissionalização, embora enfrentem obstáculos de formação, estratégia e foco.
Região concentra mais de um quarto dos veículos brasileiros
No total, a região Sul concentra 26,5% dos veículos do Brasil, com 3.823 empreendimentos, enquanto reúne apenas cerca de 15% da população brasileira, de acordo com dados do censo de 2022. Isto demonstra uma maior densidade de veículos na região frente à realidade do Brasil.
Essa quantidade total representa também um aumento de 345 iniciativas jornalísticas frente ao levantamento do ano passado. O Rio Grande do Sul lidera os três estados em quantidade, com 1.498 veículos noticiosos.
O maior aumento de iniciativas identificadas se deu em Santa Catarina, com 16% a mais de empresas jornalísticas, quando comparadas com o levantamento anterior do Atlas.
O Paraná se destaca em mais um dado: é o segundo estado com mais cidades na lista dos 30 municípios com maior número de veículos, sendo elas Curitiba, Foz do Iguaçu e Londrina. Curitiba, inclusive, é a segunda cidade do Brasil com maior número de veículos: 259. A primeira é São Paulo. As outras cidades que representam a região Sul são Porto Alegre (5º lugar) e Florianópolis (12º lugar)
Marcelo Crispim da Fontoura () é jornalista e doutor em Comunicação Social pela PUCRS. É professor de jornalismo de dados e desinformação na Famecos-PUCRS, além de pesquisador no Atlas da Notícia e consultor para a IFCN e a Meedan.