Diminui a quantidade de iniciativas jornalísticas na região Centro-Oeste

Diminui a quantidade de iniciativas jornalísticas na região Centro-Oeste
Arte por Méuri Elle

  • Rádio é o segmento com maior estabilidade e foi o único que registrou aumento, nesta edição do censo, na região Centro-Oeste.
  • Mesmo com o encerramento de iniciativas jornalísticas, o Centro-Oeste segue com a menor proporção de desertos de notícias do Brasil.
  • Passaram a ser desertos noticiosos os municípios de Novo Horizonte do Sul (MS), Cotriguaçu (MT), Feliz Natal (MT) e Lambari d’Oeste (MT).
  • Iniciativas jornalísticas começam a solicitar financiamento de leitores por doações via pix.

O Atlas da Notícia, nesta 6ª edição, registrou queda na quantidade de iniciativas jornalísticas em todos os estados da região Centro-Oeste.

No Distrito Federal, foram 41 veículos fechados, no Mato Grosso, 6; no Mato Grosso do Sul, 2 empresas e em Goiás, 1. O total de iniciativas que foi encerrada representa 1% da base de dados da região no censo.

O principal motivo para o fechamento das empresas é a dificuldade em financiar e estabelecer modelo de negócio sustentável e lucrativo. Na região Centro-Oeste, ainda predomina o modelo tradicional de venda de publicidade para órgãos públicos e privados. As empresas jornalísticas tiveram perda de lucratividade nesse modelo de negócio com o advento de anúncios em redes sociais e sites de buscas, além da redução de repasse de verba pública para a imprensa nos últimos anos.

Paralelamente, o crowdfunding, financiamento de iniciativas a partir da colaboração de pessoas físicas, ainda é bastante tímido e com baixa adesão da população.

Na região Centro-Oeste, desde os anos 1980, há a cultura do consumo de informação noticiosa gratuita, inclusive no formato impresso. Essa sistemática fez da confluência da rua 14 de Julho e com a avenida Afonso Pena, aos domingos pela manhã, um ponto de encontro do campo-grandense para receber jornal de graça. A prática segue com os sites de notícias locais em que o leitor não tem o hábito de contribuir financeiramente para a produção de conteúdo.

A dificuldade em estabelecer um modelo de negócio sustentável está demonstrada nesta edição do Atlas da Notícia, principalmente para os sites de notícias.

Coletivos e sites jornalísticos independentes começam a se estabelecer no Centro-Oeste

Jornalistas, a partir de suas realidades locais, como alternativa para a realização profissional organizam-se, formam coletivos, associações, pequenas empresas e outras formas de organização para trabalhar. Além de estabelecer novos formatos de iniciativas, os profissionais estão investindo em inovadoras abordagens narrativas, como por exemplo, a Revista Badaró, criada com o objetivo de ser o primeiro veículo brasileiro focado na produção de jornalismo em quadrinhos.

Desde o início, a Badaró busca se manter de forma independente, financiada por pessoas que consomem o conteúdo produzido e por iniciativas parceiras. Atualmente, o conteúdo da revista é publicado de forma digital e impressa.

Um outro exemplo é o TeatrineTV, site jornalístico online independente dedicado a cobrir os diversos assuntos da arte e da cultura, tendo como objetivo principal investigar o uso da verba pública da cultura e oportunizar espaço para debate e promoção dos diversos gêneros artísticos produzidos na região Centro-Oeste. A proposta do site foge da convencional cobertura e divulgação de agenda cultural.

Rádio é o segmento mais estável e representativo na região

A região Centro-Oeste tem a menor porcentagem de desertos de notícias e o segmento que garante boa parte da cobertura é o rádio. São ao todo, 729 rádios, 592 sites de notícias, 370 jornais impressos e 210 emissoras de televisão. As rádios estão pulverizadas e cobrem territórios como o Pantanal e o Cerrado, possibilitando que a informação chegue em municípios sem sinal de internet ou acesso precário à rede.

Em fevereiro deste ano, o Ministério das Comunicações disponibilizou, por meio de editais, 11 novas outorgas para rádios comunitárias na região Centro-Oeste. A distribuição dos sinais está proporcional ao quantitativo de desertos de notícias nos estados. Serão, em breve, sete novas rádios em Goiás, três no Mato Grosso e uma em Mato Grosso do Sul.

A representatividade do rádio no Centro-Oeste é reconhecida e citada no Perfil do Rádio Comercial Brasileiro, desenvolvido pela Associação Brasileira de Rádio e Emissoras de Televisão (Abert) desde 2012. No relatório da pesquisa consta que o serviço de rádio comercial é mais desenvolvido no Centro-Oeste, onde a cobertura alcança mais da metade dos municípios. A cada nova pesquisa divulgada pela Abert e a cada nova edição do Atlas da Notícia, o rádio tem se expandido e contribuído para o ecossistema local de notícias.

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A pesquisa da sexta edição do Atlas da Notícia é resultado do esforço coletivo e voluntário de uma rede de estudantes e de professores de universidades nordestinas. Nossos agradecimentos aos que colaboraram com a pesquisa no Centro-Oeste.Participaram os seguintes alunos, estagiários e voluntários: Ana Beatriz Castelo Branco Soares, Beatriz de Souza Franco, Beatriz Sena, Bruno Borges, Carlos Eduardo Eleutério Bastos, Claudio Nunes Batista, Daniela Ávalos dos Santos Pereira, Daniela Cristiane Ota, Danielle Errobidarte Matos, Douglas Nestor Jost Rebelato, Edson Luiz Spenthof, Eduarda Victória Bezerra de Souza, Emilly Mira Alves Santana, Emilly Sarah dos Santos da Silva, Enzo Henrique, Érica Cabreira Castilho, Felipe Jara Garcia, Felipe Silva Argelho dos Santos, Gabriel Gill Ramires, Gabriel Hissao Coelho Issagawa, Gabriel Tele Santana, Gabriella Castro, Gabriella Luccianni Morais Souza, Gian Guilherme Brittes Guimarães, Gustavo Ferreira de São Miguel, Gustavo Grance Reis, Hanielle Barreto Rodrigues, Helder Samuel dos Santos Lima, Isabella Alves Russo, Jeferson da Silva Marques, João Pedro de Oliveira Buchara, João Pedro Santana Pontes, João Pedro Souza Vieira, José Victor Marçal Câmara, Kézia Alves Bruno, Laisa Cristina chimenez Schiavi, Laiz Cristina Lima Amorim de Abreu, Larissa Sampaio, Larissa Thays Da Costa Reis, Laura Elisa Ramire Radighieri, Lorena Oliveira Martins Sone, Marcos Nailton, Maria de Fátima Rodrigues, Maria Eduarda Lima Vargas, Maria Gabriela Souza Dias, Mariana Ferreira Lopes, Mário Luiz Fernandes, Monique Lima, Nathália Rocha, Nicolás Linares, Rafael Kosak, Rafael Vasques Medina, Renato cunha dos Santos Filho, Sabrina Moreira de Morais Oliveira, Samuel Mello, Taís Seibt, Vitória Gabrielly Braga dos Reis.Instituições: Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da região do Pantanal (Uniderp).


Angela Werdemberg (Pesquisadora - Centro-Oeste) é jornalista, mestra em comunicação e doutoranda em Estudos Midiáticos. Coordenadora do Atlas da Notícia na região Centro-Oeste e professora na Universidade Uniderp.